sexta-feira, 31 de março de 2017

A LIBERDADE NÃO CHEGA PELA LEI

     No meio do povo há uma forma de explicar com jocosidade o princípio fundamental da democracia : democracia quer dizer que você é igual a mim e não eu que sou igual a você.
     Curioso como o mundo age desta maneira, e as lideranças políticas representativas das nações se colocam na defensiva quando se trata do compartilhamento de opiniões. O pronunciamento da primeira ministra do Reino Unido justificando a saída da União Europeia tem a marca da atual insegurança que paira nos ares do mundo. O corondó é um pequenino caracol, como todo caracol, ele se recolhe para se proteger e mesmo assim não escapa do seu predador. A senhora Theresa May, na sua fala perante o Parlamento, jactou-se ao dizer que a partir daquele dia "os ingleses obedeceriam apenas as leis inglesas ".
     Com todo o respeito e admiração por aquele Parlamento, não podemos afastar para o lado a sabedoria do povo, a lei ocupa apenas o primeiro degrau em busca da liberdade. E a felicidade só será alcançada então quando a justiça, o mérito, a moral e a prevalência dos princípios entre as pessoas e seus povos comungarem a segurança por uma crença de que a prosperidade particular e coletiva é um patrimônio de hoje e do futuro desse pequeno mundo em que vivemos.

quarta-feira, 29 de março de 2017

O INTELECTUALISMO A SERVIÇO DA INUTILIDADE

     Durante a década de 60 a ONU defendia a ideologia de modernização industrial para favorecer grandes conglomerados e a partir dessa estrutura produtiva se consagrar o que hoje entendemos como mercado globalizado. Mas os problemas colaterais com essa modernização mundial não eram trazidos para os debates, principalmente a transferência tecnológica usada para o desenvolvimento nos países mais pobres. Não basta a implantação de grandes projetos de tecnologia de ponta para substituir processos de produção tradicionais e entender isso como sendo transferência de inteligência. Não, não é. Convém considerar os efeitos sociais nessas mudanças bruscas em níveis de culturas de enorme desigualdade, um exemplo oportuno, foi uma pesquisa realizada sobre o impacto da tecnologia importada para os altos fornos de indústrias siderúrgicas no Brasil, os operários naquela época quando se aposentavam apresentavam sintomas de total desiquilíbrio orgânico, e o mais intrigante, é que na maioria dos casos não sobreviviam a 36 meses depois de aposentados.
     A inadequação tecnológica entre diferentes projetos é uma das causas na incapacitação da mão de obra e se torna, consequentemente, um propulsor da perda no estímulo da difusão de técnicas avançadas. Mesmo dentro da ONU as assembleias são marcadas pela presença de poderoso "loby" que oferecem filantrópicos conhecimentos inúteis e guardam a sete chaves as patentes fundamentais para o bem estar da humanidade.
     É uma regra desse jogo: os países buscam um lugar na condição econômica e social, por esse objetivo aceitam as importações em bens de capital de alta tecnologia com o propósito de queimar etapas, assim podem avançar rapidamente em seu desenvolvimento. Com essa estratégia de importação, também outros problemas estão embutidos, eles estão caracterizados por uma filosofia produtiva marcada pelo desperdício e por uma volatilidade de produtos com incrível obsolescência planejada.
     Duas gerações, pelo menos, já passaram e até agora ninguém se deu conta dessa filosofia de produção, ela é vendida para consumirmos em dobro sem percebermos que tem a mesma finalidade, e o que é pior, do ponto de vista da inteligência humana,  pagamos várias vezes por uma mesma coisa.

domingo, 26 de março de 2017

A SOCIEDADE ECONÔMICA NÃO É SOCIAL

     Nunca estivemos tao doutrinados pelo Estado como hoje, acredito, não existir um único país cuja economia seja capitalista sem a interferência estatal, é uma corrente mundial na defesa dos interesses políticos visivelmente nacionalista e protecionista, em outras palavras, a presença do Estado na economia transfigurou os fundamentos do capitalismo, o princípio da livre iniciativa não vinga se não estiver perfeitamente enquadrado na linha ideológica do Governo, todo o processo de regulamentação comercial passa pela área política governamental, o comércio internacional obedece aos acordos de políticos integrantes de governos e que na sua maioria tem interesses financeiros nessas transações comerciais.
     Se analisarmos o desenrolar da política econômica praticada atualmente e voltarmos aos meados do século XIX já encontraremos o questionamento da identificação cada vez mais evidente, como hoje, da diferença entre a teoria e a realidade da ciência econômica como ciência praticada. Augusto Comte defendia a imposição da importância do contexto social em toda narrativa proposta de política econômica. O que preocupava então era que os argumentos teóricos careciam de alicerces sociais, o que é melhor concluir para o que acontece hoje, valendo-se dos exemplos passados, é a necessidade elementar de que o único paradigma a ser objetivado em qualquer modelo econômico é o desenvolvimento social, senão a ciência econômica morre.
     Portanto, temo pelo caminho que é conduzida a sociedade consumidora mundial, o protecionismo quando praticado com a igualdade de relações gera desenvolvimento social, quando é articulado com blindagem política se torna uma nuvem dentro dos pactos e acordos econômicos e anula a presença dos possíveis benefícios sociais. Temo que o Estado por ser uma instituição abstrata e vazia de fundamentos e princípios sociais gravados em pedra, utiliza a força do martelo da lei para submeter a sociedade do mundo inteiro a um conflito de pré extinção.

domingo, 19 de março de 2017

A PREOCUPANTE TENDÊNCIA DO NÍVEL DE EMPREGO

     O estudo da renda gerada pelo eixo da correlação entre a empresa e a família perdeu a importância em função das introduções tecnológicas no processo produtivo da economia, por conta dessas mudanças podemos considerar que as crises de ordem política e econômica tenham como gatilho o desemprego, e sejam sobretudo, alimentadas pelo temor da perda da renda. A manutenção do nível de emprego está passando por uma fase de difícil previsão e não se trata de outra forma essa questão, porque o salário é negociado sempre para baixo nas renegociações quando do reemprego, existe de fato um drama mundial com a tendência preocupante do futuro de quem precisa trabalhar. Já abordamos tantas vezes as dificuldades de adaptação de qualificação de mão de obra quando ocorre as incursões inovadoras na atividade produtiva, as fábricas americanas estão cada vez mais inteligentes e os robôs estão ocupando os espaços  mais sofisticados, incapacitando e excluindo a presença da mão de obra humana.
     O que se torna claro nesse caso é que a economia se preocupa com o lucro que a produtividade oferece aos proprietários dos fatores econômicos, sabemos que isso historicamente sempre foi assim, só que agora a presença do trabalhador perdeu importância relativa como fator agregado da produção, nesse ponto é aonde está o cerne dos problemas da formação da renda das pessoas e a ONU e a OCDE estão percebendo os graves sinais que vem se acumulando como sequelas das crises mundiais.

quinta-feira, 16 de março de 2017

UMA UTOPIA REAL E PRÓXIMA DE NÓS

     Perto de onde moro vive um pequeno produtor rural, é um homem de meia idade que de vez em quando, enquanto maneja seu gado, ficamos a trocar uma prosa, uma conversa mansa da sua luta do campo. É uma pequena várzea, um lindo vale de aproximadamente 50 hectares, uma terra totalmente trabalhada e produtiva pela mão humana de um lavrador com a ajuda de mais 5 homens. Toda a produção é artesanal e com métodos braçais no trato da terra. A energia que " foge fluindo da fina flor dos fenos" é capaz de ressuscitar as mentes mais deprimidas, a imagem soberana desse lavrador é a própria essência materializada da mistura entre o homem e a natureza
     Do ponto de vista econômico e social essa pequena área agrícola é governada obedecendo  os princípios naturais da anarquia e da utopia, não existe haveres nem deveres, é a necessidade pela sobrevivência que leva de sol a sol essa atividade produzir, e o mais estranho para não dizer cruel, é que produz a satisfação de outrem enquanto pouco nada será traduzido como prosperidade própria. Talvez, e por isso seja sabedor de que precisa cuidar da mãe de todas as coisas, a terra ! Em troca ela cuidará dele !
     Pessoa admirável, esse lavrador. Exemplo de quem governa, se assim podemos entender, uma pequena República na mais pura convivência comuna democrática. Uma outra República que é governada pela força da obediência de um livro repleto de leis, tenta lhe  imprimir de forma  exprobratória aquilo que não funciona para si mesmo e não tem a felicidade plantada pela outra.

segunda-feira, 13 de março de 2017

A PRODUÇÃO DA SOJA NÃO É DESTINADA AOS HUMANOS

     Uso de aristotelismo para dizer que na antiga Grécia era comum falar que o começo é a metade do todo e toda revolução se inicia por grandes coisas mais de pequenas causas. Das revoluções da Era Moderna podemos sempre extrair esses princípios antigos, sobre a causa e a coisa, sobre o objeto e o objetivo e entender melhor o que a civilização moderna pensa ou imagina que pensa quando muda de ritmo e de rumo para poder avançar, dispõe para isso de meios inimagináveis até mesmo para alguns de nós modernos, e o que dizer então para os cidadãos atenienses 450 anos a.c.
     Essa introdução é mais um manifesto sincero do que a aparência de uma presunçosa retórica. Se muito tenho me dedicado a questionar os rumos escolhidos pela desenvoltura e uso dos modelos, estratégias e objetivos do processo econômico do mundo na agricultura, mesmo assim, sinto profundos sentimentos de que caminhamos apressadamente para a beira de um abismo.
     Porque não ter coragem de indagar do que valeu tanta tecnologia ? Essa coisa maravilhosa criou a causa do êxodo rural, 90% da população da China é urbana ! Não existe, podemos dizer, população rural no Brasil, e entretanto, com ufania se divulga colheita inédita da soja brasileira, as imagens de monstruosas e deslumbrantes colhedeiras fazem o horizonte do oeste brasileiro dia e noite a dentro. O Cone Sul da América Latina lidera esse mercado com 2/3 da produção mundial, é extraída de uma área continental, literalmente e entusiasticamente degradada, de onde sai a proteína vegetal tão importante, mais que somente 20% dela será destinada aos humanos, a ração animal leva o resto.
     Não sei a resposta do custo e do benefício dessa atividade agrícola, o que eu sei é que 20% da soja esmagada não é suficiente para abastecer com proteína vegetal quase 6 bilhões de habitantes urbanos.

terça-feira, 7 de março de 2017

O MUNDO NÃO MUDA OS VELHOS CHAVÕES

     Como seria se hoje Henry Ford resolvesse abrir uma empresa industrial e desse aos seus operários o mesmo salário, fossem eles cegos, aleijados ou fisicamente perfeitos? Mas, foi exatamente isso que ele fez ! contrariando exigências legais, banqueiros e a sordidez dos ricos pela falta de cooperação.
     Assim como antes, o princípio de cada "cada um para si e que os outros façam o mesmo", navega pelos mares dos 6 continentes e de vez em quando desembarca em regiões subdesenvolvidas para obter vantagens comerciais como as matérias primas estratégicas da América do Sul. O cobre, ouro, terras raras, ferro e o alumínio arrebentam com a natureza e o legado social fica por conta dos contratos assinados. Vale lembrar uma empresa multinacional do setor da mineração que explora o alumínio no norte do Brasil a mais de 60 anos, os investimentos realizados nesse projeto já tiveram tempo suficiente de resgate, entretanto o efeito marginal da renda da revenda desse produto depois de beneficiado fica todo lá fora, além claro, das remessas de lucros para a matriz.
     Não é de admirar que a China e a Índia, lideres da produção do trigo e do arroz, façam pressão junto a Organização Mundial do Comércio ( OMC ) para aumentarem suas barreiras tarifárias de importação, esquecendo ou nada se importando com os possíveis prejuízos das exportações do Cone Sul ( Brasil, Argentina e Paraguai ) e com a derrubada que suas exportações causam nas cotações do mercado.
     Finalmente, o pacto da Eurásia, a União Européia, o pacto Transpacífico e a Nafta estão longe da realidade e da necessidade para o desenvolvimento do Continente Sul Americano, e no meu firme entendimento de que o ilustre economista brasileiro Celso Furtado tinha as bases do desenvolvimento da América do Sul com 430 milhões de habitantes, com potencialidade igual a União Européia de 495 milhões de habitantes e da América do Norte ( Estados Unidos, Canadá e México ) com 520 milhões de habitantes. O desenvolvimento econômico e social da América do Sul, segundo ele, seria alcançado com a união entre seus países.

domingo, 5 de março de 2017

O CAMINHO DO GRÃO DEVERIA SER RETO

     Quem mantem o controle das cotações no mercado de mercadorias em Chicago? Vivendo na região rural do Brasil sou capaz de apostar que o mercado é controlado pelos atravessadores, já assisti a carga de um caminhão de tomates ser derramado na estrada por falta de preço no mercado. o mesmo princípio vale para todos os tipos de mercado, incluindo o de ações de Nova York e da bolsa de moedas de Londres.
     Ultrapassado essa fase das ganâncias, para que o grão comece a ter vida fora da vagem precisará essencialmente de bancos, de aguá, energia, adubos, defensivos, implementos agrícolas, transporte, silos, fretes, portos, serviços aduaneiros, políticas de estoques reguladores e a sorte da natureza. Não pará por aí e a pior parte começa quando tendo ultrapassado os gargalos da produção o grão só chegará a nossa mesa se o mundo chegar acordar com responsabilidade todas as regras, o GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) ficou esgotado e todas as questões de barreiras comerciais foram cair no colo da Organização Mundial do Comércio(OMC) que tenta executar um sistema mais abrangente e multilateral, entretanto o intercâmbio internacional comercial continua seguindo por um caminho de labirinto e não reto, a perda teoricamente é de quase 2 quilos per capita mundial, isto é, o que se perde com desperdícios, pragas dentro de silos, pragas dentro dos porões embarcados, esperas nos gargalos de embarques e as fronteiras protecionistas são alguns dos entraves que tornam os grãos insatisfatórios. Esperamos novamente, que ainda este ano a conferência de Buenos Aires consiga os resultados voltados para uma regulamentação solidária de produção, venda e preço, democraticamente multilateral, para que a justiça seja maior para o produtor e o consumidor, deixando o oportunismo dos atravessadores sobre controle.

quinta-feira, 2 de março de 2017

O LABIRINTO POR ONDE PASSA O GRÃO

     A nossa trincheira em defesa da racionalidade da produção e distribuição de alimentos é muito frágil. Alimentar o mundo não é tão simples, estima-se uma produção mundial de grãos de 3 bilhões de toneladas para serem consumidos por mais de 7 bilhões de pessoas, essa produção é anual para ser consumida diariamente pelo mundo todo... e não é. Esta é a causa da nova advertência que a ONU acaba de fazer sobre a distribuição social e democrática do alimento. Em 1983 o economista brasileiro Mário Henrique Simonsen, professor de economia da renomada FGV (Fundação Getúlio Vargas) no Brasil alertava para o "perigo de uma taxa de crescimento demográfico negativa para uma população de renda per capita anual decrescente poderá ocorrer que a população seja submetida a um processo gradual de extinção por falta de meios de sobrevivência". Essa previsão com pouco mais de 30 anos é cada vez menos absurda quando verificamos, entre outros aspectos, que 54%  das pessoas vivem em cidades, no Brasil, como exemplo, são 6 habitantes urbanos para apenas 1 no campo e essa pirâmide humana envelheceu e portanto o mundo produz menos.
     O grão, o alimento não sai da terra direto para a nossa mesa, eis aí a grande dimensão questionável que a ONU e a FAO não sabem qual é o caminho seguido pela teia que o alimento percorre e o mais grave, no meu entendimento, o próprio alimento também se perde nesse caminho. É uma teia construída pela diversidade cultural, econômica e política de todos os países envolvidos no comércio internacional de alimentos. Mais adiante tentarei desenhar essa teia.